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Você tem espaço para pensar?


Vivemos um momento único: uma transição. É o ponto de partida para onde o equilíbrio é nulo e o ambiente passa a exigir cada vez mais atenção a tudo o que eu se faz. Descontruímos velhos hábitos, enquanto outros persistem. Resistimos e existimos. E seja para onde a maré nos leve, será indispensável abrir mão de antigas ferramentas e métodos que já não se enquadram à realidade. Será preciso prensar e criar ambientes para pensar.

 

 Sócrates deve me perdoar, mas não é possível acreditar no dualismo simples de que se existe porque pensa, sob a pena de crer que somente existe quem pensa, ignorando toda trajetória possível entre o ser (palpável) e a noção de existir. Também seria ignorar que, diferente do que havia na Grécia antiga, já não se veem mais pessoas como o filósofo, que dava suas lições ao ar livre. Hoje, pensamos atrás das telas – profundo conhecedores da filosofia facebookeana, onde a vida imita a arte, seja na comédia ou na tragédia. Entretanto há uma mudança: o ambiente.

 

Não se deve estranhar que algumas pautas que buscavam por espaço nas últimas décadas tenham ganhado visibilidade com o passar dos anos e avançando em suas conquistas. Mesmo que ainda tímidas e mesmo que para um passo à frente possamos ver três passos para trás. Isso acontece por algo simples, que tornou a militância tão importante e foi ampliada com o uso da internet a criação de um ambiente. Com interesses, gostos e pautas similares, coletivos tem se formado e fomentado o desenvolvimento de locais onde é possível desenvolver um pensamento alinhado com um objetivo, dialogando com pessoas que estão realmente interessadas e por isso ouvem atentamente e dialogam com harmonia. Estes ambientes não são aqueles lugares fictícios onde os unicórnios pastam. Eles existem de verdade e podem chegar a sua vida profissional ou privada a partir da criação de um ambiente que privilegie a liberdade de pensamento.

Muito mais do que uma ferramenta, a metodologia criada, pesquisada, aplicada e comprovada por Nancy Kline ao longo de mais de 30 anos de pesquisa tem sua eficácia comprovada no desenvolvimento individual e de organizações que as adoram como filosofias de vida. Literalmente falando, a metodologia Thinking Environment significa ambiente “para pensando”, o que tem potencial de mudar culturas organizacionais para melhorar e promover benefícios visíveis nas relações humanas e financeiras através de ações que tem como fins: (1) Desenvolver uma escuta ativa que gere diagnostico acurado; (2) Construir relacionamento fortes com relações com alto nível de confiança; (3) Desenvolver lideres facilitadores ao invés de heróis que precisem dominar e controlar as soluções; (4) estabelecer uma linha de atuação que abrange a diversidade de pensamentos e ideologias; (5) compreender a si mesmo como essencial e dispensável ao mesmo tempo.

 

O PADRÃO SOCIAL (NÃO CONFUNDIR COM NORMAL)

O primeiro componente de um Thinking Environment é a atenção, cuja qualidade leva o pensamento do outro para um novo patamar. Lembre-se daquela conversa produtiva que teve com seus amigos sobre qualquer assunto e certamente concluirá que os envolvidos na conversa estavam atentos à discussão. Na mesma linha, recorde daquela conversa que teve com alguém que mexia no celular constantemente e verá que a produtividade da primeira foi muito maior do que a segunda. Isto ocorre porque a qualidade da atenção determina a qualidade do pensamento do outro. O interesse e a curiosidade pelo processo de pensamento do outro e a vontade de saber onde a argumentação irá chegar, sem precisar do seu ponto de vista, permite um diálogo sem interrupções em que se ouve com respeito.

Assim, todos têm espaço para falar e se manifestar com garantia de que sua vez será respeitada, trazendo melhor contribuição na presença de atenção. Ao executar a metodologia com pares e rodadas de pensamentos, vale a pena distribuir igualmente o tempo, o que, de quebra, ainda ensina as pessoas a serem sucintas e divagarem menos.

E se você ainda não entendeu aonde a hierarquia entra nesse processo todo, comece sua análise partindo do princípio de que a autoridade não deve ser usada para conquistar espaços. A melhor forma de equilibrar as relações de poder é firmar um acordo sobre tempos de fala e critérios de decisão claros, permitindo mais transparência e valorizando a democracia.

 

ANTES DE COMEÇAR

Este ambiente é muito bonito, eu sei. Mas se aproximaria cada vez mais do unicórnio se não fosse por alguns precedentes. Antes de uma sessão de Thinking Environment é muito importante se libertar do senso de urgência interna, trazendo a atenção dos pensadores para que se livrem dos desconfortos ou preocupações para abrir espaço à leveza interna. Assim, conquista-se a tranquilidade para que as reuniões ocorram com melhores condições para promover pensamentos de qualidade.

Para além disso, é a partir dessa tranquilidade que as pessoas passam a se sentir confortáveis uma com as outras, livres para dizer o que pensam e sentem, o que tende a ser mais frequente com as experiências dessa natureza ganham espaço. Este fator ainda permite que se construam relacionamentos fortes, baseados em relações de alto nível de confiança.

Inevitavelmente, isto será possível a partir de uma compreensão dos próprios sentimentos para permitir o alívio emocional. Embora tenhamos sido educados para não expressar sentimentos negativos, deixá-los vir à tona não é um sinal de fraqueza. Criar uma conexão com os seus sentimentos permite que a pessoa pense melhor.

Para além da mente, o primeiro local onde se expressam os pensamentos é o corpo que, livre de descontos, influencia positivamente a qualidade de pensamento. Da mesma forma, manter um ambiente limpo e organizado busca refletir a intenção de quem os preparou para receber o grupo, comunicando de modo não verbal “eu me importo com vocês”

A tranquilidade será atingida a partir de uma mudança fundamental de postura, que diferencia dos ambientes para Pensar dos demais. Em ambientes tradicionais, o criticismo impera sobre a apreciação ou buscam-se mais culpados, valorizando mais os erros do que os acertos, tornando os envolvidos cada vez mais relutantes para compartilhar suas ideias naturalmente e dizerem o que realmente pensam. Já em um ambiente apreciativo, a sensação é de valorização e pertencimento, gerando pensamentos analíticos e insights criativos.

A incorporação desse componente em sempre é fácil. A recomendação prática, porém, é praticar uma proporção de 5:1 de apreciação contra o criticismo, isto é, para cada pensamento crítico ou julgador (que são inevitáveis) deve-se encontrar cinco pensamentos apreciativos sobre a mesma pessoa ou assunto. Reconhecer potencialidades estimula o pensamento de qualidade.

 

JOGUE JUNTO

O que você faz quando algum colega dá uma ideia considerada absurda a partir da sua visão de mundo? Se a resposta é declarar que “isso não funciona”, entenda que você se limita a uma resposta rasa que não tem muito a ver com a criação de um ambiente propício para o pensamento.

Apesar de compreender que concorremos com os pensamentos alheios (e até com os próprios, muitas vezes), nocivo para a empresa manter esta cultura de competição e comparação, já que por si só é incapaz de assegurar a excelência. O que falta, nesses casos, é encorajamento.

Mas o encorajamento só ocorrerá a partir do momento em que entendermos que cada um toma suas próprias decisões e organiza seus pensamentos com base nas informações disponíveis, estejam elas acuradas ou não. Pensar com qualidade depende de informações verdadeiras, relevantes e atuais, sem negar a realidade, ou encarando os fatos para não cair em suposições falsas e em opiniões ou crenças limitantes. Na falta de informações, ou quando elas são incorretas, a qualidade do pensamento e decisões decai tornando o processo de pensamento em vão.  E se compreendermos que cada pessoa opera o seu pensamento baseando-se nas suas próprias experiências, referências e valores, que são únicos, seria impossível manter um bom ambiente de pensamento sem acolher a diversidade, os diferentes pensamentos e identidades do grupo. Ao aceitar novas perspectivas e visões, ampliam-se as visões de realidade e permite-se um pensamento melhor ao envolver a aceitação do que é muito diferente de si e do que pensa. A falta de um pensamento inclusivo, por sua vez, é expressada pela intolerância, mantendo o grupo preso em suas verdades e opiniões.

 

REMOVER BLOQUEIOS

Depois de se encantar com filosofia do Thinking Environment, quem sabe você esteja se perguntando como agir nos momentos de bloqueios criativo. Remover os limitadores da capacidade de pensar com clareza e criatividade dependo do que Kline chama de “Incisive Questions” ou Perguntas Incisivas. Incisiva ou firme, a pergunta direcionada para o pensamento permite que o próprio bloqueio seja questionado para se transformar em opções libertadoras.

Na prática, pergunte: O que você está supondo que limita meu pensamento neste tópico? A resposta dialogará com toda a filosofia, podendo evidenciar crenças limitantes, opiniões que desconsideraram a diversidade, emoções reprimidas, etc. E depois de identificar estes pontos limitadores, pergunte: Ao invés e pensar nisso, o que deveria assumir que fosse libertador, factível e verdadeiro? Mas não se limite a resposta. Prossiga em busca da resposta para esta questão: Se essa suposição libertadora é possível, o que mudaria em meu pensamento nesse tópico? Que novas ideias ocorrem a partir disso?

A criação de ambientes que promovam o pensamento livre parte da busca de um ambiente mais harmônico e respeitoso diante da diversidade de pessoas e ações que os envolvem.

É o caminho para um futuro mais inclusivo, criativo e sem temer uns aos outros.


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