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O Desapego como fonte de renda


Uma nova tendência foi lançada no mundo da moda. Os brechós chegaram com tudo e conquistaram o coração dos consumidores. Em um mundo tão consumista e com altos índices de poluição, o consumo consciente e a sustentabilidade transformaram-se em palavras de ordem e os brechós compreenderam esse conceito muito bem. Além de prezarem pela sustentabilidade, incentivando o consumo consciente, trabalham com preços acessíveis a todos os públicos o que faz com que essa prática torne-se um modelo rentável de negócio. 

Engana-se você que pensa que os brechós são um modelo de negócio novo. Antigamente quando você pensava em brechó imaginava uma lojinha velha e escura com objetos e artigos tão velhos quanto a fachada. No mesmo lugar que você entrava para comprar um lenço, você poderia achar um abajur vintage ou um jogo de louças do século passado. O conceito de brechó ainda é o mesmo, o que mudou foram suas vertentes criativas e visões de negócio. 

Os brechós por classificação são lojas de artigos usados e tem foco principal em roupas, calçados, bijuterias, louças, objetos de decoração e arte e utensílios domésticos. Alguns deles são realizados por instituições filantrópicas e tem como objetivo reverter a renda da venda dos utensílios a alguma causa social. 

O brechó deixou de ter aquele sinônimo de coisa velha e cafona e tomou uma nova roupagem. Com a tecnologia em alta e a internet como uma grande aliada, a possibilidade de fazer bons negócios aumentou. As blogueiras de moda e celebridades passaram a ser grandes incentivadoras do consumo consciente o que gerou uma aposta ainda maior na crescente dos brechós. 

Na saudosa década de 90 a sustentabilidade entrou em pauta com gás total dentro do mercado financeiro e dentro das empresas e tornou-se uma estratégia de diferenciação. Desde então o conceito foi empregado socialmente e a maioria das empresas esforça-se para incorporar esse modelo. Assim as formas de consumo também mudaram muito e surgiu um novo tipo de consumidor. Um consumidor consciente é aquele que ao optar por um produto, preocupa-se com o meio ambiente, a saúde humana e animal, as relações justas de trabalho, assim como preços e marcas. 

Para entender melhor o contexto dos brechós e como são uma opção de negócio rentável a Êxito conversou com Simone de Oliveira, de Videira idealizadora do Brechó Desa_pega. Aos 33 anos sendo formada em Gestão Financeira e cursando Ciências Contábeis nos contou que sempre foi muito consumista, comprava as roupas por impulso e muitas delas ela acabava nem usando e por vezes ficavam no guarda-roupa sem uso e até mesmo ainda com a etiqueta. Em um domingo à tarde teve um estalo: “Por que não vender essas roupas que estão paradas e ainda faturar um dinheiro extra?”. Esse pensamento veio em conjunto com o desperdício de deixar todas essas peças paradas. A partir disso pensou em um nome que fosse condizente com seu projeto e criou uma conta no Instagram, chamada @Desa_pega Oficiall e passou a vender suas roupas pela internet. 

Quando procuram um brechó as pessoas buscam um preço acessível e peças que estejam em bom estado de conservação, além de um lugar aconchegante que as faça sentir à vontade. Simone trabalha com roupas, calçados e acessórios e afirma que seus clientes buscam também uma opinião sincera e amiga sobre os produtos que estão adquirindo. 

Os brechós são muito associados à sustentabilidade, mesmo que ainda haja um pré-conceito referente a eles. As pessoas alegam não saber de onde a roupa vem, ignorando o processo de higienização pelo qual passam ou o fato de serem novas e terem apenas pertencido a outra pessoa. Além de comprar as roupas por uma valor muito bom, comprar em brechó fortalece o estilo de cada um, afinal você acaba comprando a peça porque se identifica com ela e não necessariamente porque está na moda ou é uma tendência. Para Simone o consumo consciente vai muito além de vender peças usadas na internet por um preço acessível, a maior questão é dar um novo propósito às peças.

Roupas novas precisam de muito recurso para serem produzidas. A indústria têxtil é uma das maiores geradoras de poluentes e a maneira como sua cadeia de produção funciona raramente é transparente. A diminuição no consumo de peças novas é uma fonte de reduzir danos, afinal menos de 1% de todo o material é reciclado e dá origem novas peças, o que contribui significativamente para o aumento da poluição mundial. As pessoas consomem em média 60% mais peças do que consumiam há 15 anos e cada item é mantido no armário por metade do tempo de antes. Se perde cerca de 500 bilhões ao ano com descarte de roupas que vão direto a aterros e lixões e sequer são recicladas.

De uma vontade antiga de trabalhar com loja de roupa e de um estalo de domingo a tarde surgiu o Desa_pega que tem sido um modelo de negócio rentável, levando em conta que todos os envolvidos se beneficiam com a transação. A loja, a pessoa que desapega da peça e para quem compra, sem contar o meio ambiente que recebe menos poluentes. O projeto que iniciou suas vendas pela internet com peças exclusivamente dela e a loja que nasceu em um dos quartos da casa foi ganhando forma quando algumas amigas e conhecidas pediram para que revendesse seus desapegos. Quando se deu conta já tinha mais de 60 meninas parceiras e o espaço havia ficado pequeno. Dessa forma alugou uma sala com intuito de melhor atender suas clientes e parceiras, focando não apenas nos produtos em si, mas apostando no bom atendimento. A loja tornou-se física, mas a internet segue sendo uma grande aliada tanto na divulgação, venda e pós-venda. Mas para Simone o valor recebido é um detalhe em relação ao bem que fazemos ao planeta aplicando o consumo consciente.

A dificuldade de conscientização é um problema apontado pela vendedora, que afirma que muitas pessoas ainda não tem noção ou consciência do mal que o consumismo causa ao planeta e acaba buscando os brechós pensando apenas no valor do produto, mas para ela é apenas questão de tempo para as pessoas mudarem essa mentalidade.

A indústria da moda é uma grande geradora de lucro dentro da economia. Ela muda com frequência e renova-se todos os dias apontando novas tendências e descobrindo novas técnicas. Porém vale ressaltar que o universo da moda ainda é pouco inclusivo, vide a dificuldade que alguns grupos de pessoas que não possuem um corpo padrão tem de encontrar peças que sirvam em seus corpos e ainda os façam sentir confortáveis e bonitos. Em geral nossos corpos mudam ao longo da vida e esse é um ponto muito positivo dos brechós. Essa “reciclagem” faz com que uma roupa que tenha ficado pequena ou grande nessa época da minha vida possa fazer outra pessoa sentir-se realizada. Não podemos nos tornar escravos da indústria da moda e da beleza e buscarmos nos encaixar em padrões que não são nossos, porque queremos estar sempre por dentro das tendências. Vale ressaltar que as roupas não são artigos descartáveis, para serem usadas apenas uma vez e serem esquecidas. Nós como consumidores devemos nos conscientizar sobre todas as questões que envolvem a criação de uma peça de roupa. Desde para onde vai nosso dinheiro, como as condições dos trabalhadores e materiais utilizados.

Nossos queridinhos brechós, já mostraram que entendem muito bem de novos modelos de negócio e de boa gestão e ainda dão uma aula de cidadania quando o assunto é consumo consciente, reciclagem e novas práticas de consumo. Então, vamos garimpar as novidades desse meio?


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