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Iona Sôza - Vagante


Êxito: “Vagante” apresenta uma sociedade humana diferenciada em outra dimensão. Quais são as semelhanças e diferenças que esses humanos têm conosco?

Iona Sôza: Acho que a principal diferença é a inexistencia de cidades: a humanidade é organizada em tribos seminomades que vagueiam por territórios terrestres. Essas tribos fazem isso por meio de naves.

A partir daí os humanos se assemelham muito com os povos que vivem em nosso território. Eles têm muito mais contato com a natureza e possuem hierarquia, mesmo dividindo espaços.

Êxito:Quem inspira a monarquia feminina de Lia, que rompe a tradição patriarcal?

Iona Sôza: Obtive diversas inspirações para conceber Lia. Inicialmente Lia surgiu como companheira da Nana, mas sentia que precisava atribuir um passado a ela. Então cruzei com a história da rainha angolana do Njinga, que salvou seu povo dos portugueses. Histórias de resistencia são a que mais me inspiram.

O nome Lia, me é muito familiar. É como eu chamava a mulher que criou a mim e meus irmãos: uma mulher negra, que abandonou a vida pobre no Norte de Minas para ir trabalhar na capital mineira e ajudar sua família.

Êxito: Existe uma tendência entre alguns autores, seja na literatura ou em outras áreas, na hora de criar personagens mulheres com base nos estereótipos de gênero bem definidos, seja na doce donzela, na cozinheira gentil ou na guerreira durona. Como você equilibrou a personagem?

Iona Sôza: Sendo bem sincero, esse equilíbrio surgiu de forma espontânea. Não foi algo sobre a qual deliberei muito.  Queria que Lia fosse uma rainha, mas nunca a imaginei como uma rainha sentada em um trono apenas dando ordens. Já a concebi circulando por entre seus súditos, ajudando no acampamento e os protegendo. Ninguém é só uma coisa. Pareceu natural para mim que a Lia fosse uma rainha, negociadora, quituteira, caçadora e também fosse alvo de um leve interesse romântico.

Mas tento evitar estereótipos a todo custo, especialmente se tratando de minorias. Isso já é algo que está muito presente em mim e tento passar nas minhas criações. Acredito que é parte do papel do escritor do insólito, criar personagens que fujam de estereótipos, pelo menos esse é o autor que quero me tornar. Qual a graça de reproduzir o que vemos todos os dias? Tento, com minha escrita mostrar que podemos fugir dos papéis que a sociedade nos impõe. A Lia reflete bem isso, mas sem ser uma rebelde.

Êxito: Lia não é uma rebelde, mas a rebeldia aparece em outro trabalho seu. Em Herética vemos uma sociedade dominada por máquinas e sistemas, em que os humanos são rebeldes por existir. Poderíamos associar você, autor, com histórias sobre resistência?

Iona Sôza: Correndo risco de me tornar monotemático, resistência é um tema que aparece nesses dois trabalhos e em outros que estão por vir. Ao contrário de Herética, que é bem violento, em Vagante quis trabalhar com a resistência não-violenta. A resistência pacífica dos nossos ancestrais que permitiu que chegássemos até aqui. Este tipo de resistência que exige outro tipo de força e muita astúcia. Então, respondendo: Sim, podem. Resistência é uma tema que ainda vou trabalhar muito.

Êxito: Vamos falar de Nana, essa misteriosa vagante, que dá nome ao conto. Podemos saber de onde ela vêm?

Iona Sôza: A Nana é uma personagem importante de um outro projeto maior. Ela vem de uma realidade parecida com  a nossa, onde recebeu esses poderes de vagar por entre dimensões.

Neste outro projeto, Nana é uma avó. Eu sentia que precisava trabalhar mais o lado afetuoso de Nana, dar a ela um companheiro de vida,  e então veio Lia. Daí surgiu outra necessidade: a de mostrar como as duas se conheceram. Aí sim, surgiu Vagante.

Êxito: Temos alguns indícios da história de Nana ao longo do conto. Saberemos mais sobre ela no futuro?

Iona Sôza: Se tudo correr bem, vocês ficarão sabendo sim. Me aguardem, ou utilizando o meme atual: Vem aí! (risos)

Êxito: Agora falando sobre você, Ioná, como você começou a escrever?

Iona Sôza: Desde que me entendo por gente, sempre tive muitas idéias de histórias na cabeça, que desenvolvia todos os dias, por anos. Antes de entrar na adolescência, eu criava histórias em quadrinhos em folhas A4 que não tinham começo nem fim e só eu conseguia ler. Apesar de nunca parar de criar, fiquei uns bons anos sem escrever essas histórias.

Em 2017, comecei a escrever fanfics, por diversão. Quando encontrei o Wattpad, achei que seria a plataforma ideal para dar vazão a essas histórias que ficavam só em minha cabeça. A partir das fanfics, comecei a criar histórias autorais e cá estamos.

Êxito: Poderia dividir conosco o seu processo de escrita?

Iona Sôza: Eu não sei se tenho um processo bem estabelecido ainda, pois ainda estou aprendendo muito sobre ser escritor. Além disso, minha natureza é bem caótica, então tenho uma dificuldade em manter uma linearidade durante o processo. Por isso tento focar em uma história por vez.

Durante a quarentena, consegui manter uma rotina de escrita, que me ajudou a começar e concluir alguns projetos. Então posso tomar essa experiência como base. Mas desde minha mudança para Portugal, tenho dificuldade para conciliar a licenciatura e a escrita.

Enfim, tento tornar a escrita parte da minha rotina. Separo 40 minutos por dia para escrever. Escrever é muito satisfatório para mim. 

Antes de começar a escrita do manuscrito, abro um arquivo onde incluo o perfil dos personagens e seus arcos, e também incluo uma escaleta - um roteiro com os principais eventos que vão acontecer no desenrolar da história. Quando chego a ao ponto de montar a escaleta é porque a história já circulou bastante na minha cabeça e precisou se materializar fora dela, por meio da escrita. Essa técnica me ajuda muito a não me perder durante a escrita, pois minha mente não para de criar. É um guia.

A seguir, inicio o processo da escrita diária do manuscrito em si (com pausas no final de semana). Isso pode demorar dias ou meses, dependendo do tamanho da história que planejo contar. Tento escrever mesmo quando não estou inspirado ou sem ideia do que fazer, é nesses momentos que a escaleta me ajuda. Por exemplo se, chego em uma cena que me deixa emperrado, deixo ela de lado e escrevo outra que já está na escaleta.

Enfim, depois de tudo escrito. Deixo o texto maturar e depois de alguns dias volto nele para editar e reescrever o que for preciso. Espero que gostem de Vagante, tanto quanto gostei de escrevê-lo! 

Vagante


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