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Espere o inesperado - Ricardo Balbino


Se escrever uma boa história já é desafiador, imagine criar novos cenários para situações ordinárias do cotidiano. O desafio assumido pelo Procurador Federal Ricardo Balbino é conquistar o leitor a partir daquilo que é inusitado, mas que poderia surgir nas situações normais. Com um conto publicado pela Êxito e outros trabalhos preparados para lançar em breve, Ricardo divide informações sobre sua trajetória de escrita, apresenta um novo texto para familiarizar o público com seus enredos e prova que nunca é tarde para começar. 

 

Êxito: Há quanto tempo você escreve?

Ricardo: Quando eu tinha dezesseis anos a professora de português pediu aos alunos uma redação com o seguinte tema: “E aqueles cinco minutos mudaram a minha vida”. Eu gostei do desafio e passei uma tarde inteira escrevendo uma história na qual o pai havia transmitido para o filho o hábito da leitura. Ela se passava em um mundo distópico no qual estavam queimando livros. A ideia é que o filho veria a fogueira e aquele acontecimento traria as mudanças para a vida dele. Foi a primeira vez que eu me esforcei de verdade para escrever um texto. Não era uma história original, mas impressionou a professora que perguntou quem havia escrito. Quando eu, orgulhoso, confirmei que tinha sido eu, um colega afirmou só por gozação que era mentira e ainda inventou que o meu pai era escritor. Não sei se eu consegui convencê-la da verdade mas, de qualquer forma, foi a primeira vez que fiquei feliz de verdade alguma coisa que eu tinha escrito. Logo depois disso eu entrei na faculdade e não consegui conciliar a escrita com os estudos, estágio, trabalho. Vinte anos se passaram e então, quando estava perto de completar quarenta anos a vontade de contar histórias retornou. Comecei a escrever com regularidade, e não parei desde então.

 

Êxito: O que te inspira a escrever?

Ricardo: Busco inspiração no que é engraçado, em ideias absurdas, naquilo que é diferente. Procuro descobrir histórias que ainda não foram contadas, ou contá-las de uma forma nova. Por exemplo: Um personagem pode morrer de diversas maneiras, assim como uma criança pode achar incontáveis coisas no pátio de uma escola. Nas minhas histórias o marido morre de spoiler porque a mulher, brava com alguma picuinha, contou para ele o final da sua série favorita. Uma máquina do tempo viaja com base nos insultos que ela recebe. Às vezes também acontece de ouvir alguma história e escrever em cima dela, como a que a minha filha me contou, que na escola os coleguinhas queriam ter afta porque descobriram que... A resposta está no texto que acompanha a entrevista.

 

Êxito: O que os leitores encontrarão em A Guerra do Ébrio?

Ricardo: Uma história engraçada e original, que parte da seguinte idéia: Qual a consequência mais improvável que poderia surgir dentro de um boteco a partir de um acontecimento banal, como alguém quebrar um copo? Com base nessa premissa, imaginei que um bêbado declarar guerra aos Estados Unidos seria algo muito coerente. Creio que ela funciona como uma breve fuga da realidade para amenizar os momentos difíceis.

 

Êxito: Podemos esperar outros trabalhos seus em breve?

Ricardo: Sim. Aliás, este último ano foi um período muito bom para a minha carreira de escritor. Tive cinco histórias aprovadas ou publicadas por revistas, editoras e podcasts. Dentre aquelas que ainda aguardam publicação está uma que sairá em uma das melhores revistas de fantasia e ficção científica do país. Tenho outros textos sendo avaliados e estou planejando lançar um livro de contos no próximo ano, seria algo no estilo do filme “Os Fantasmas Se Divertem”.

 

Passa-esconde, pique-anel

 

Há certa concordância entre todos os envolvidos de que foi ideia da Lívia a afta de papel.

Ela nega.

Diz ter encontrado a afta abandonada no canto do pátio, colocou-a no bolso e foi brincar. Escorregaram juntas no gira-gira, giraram no balanço e balançaram no escorregador.

Mas Lívia diz não saber como foi que a perdeu. Está muito triste. Pede para não contar ao pai que sente mais saudades da afta do que da própria irmã.

Certo mesmo, ou quase isso, é que a afta deve ter caído direto na boca do Artur.

Ele confirma, mas contesta.

Alega não tê-la utilizado em proveito próprio, mas para o divertimento dos colegas. Que, numa escola como aquela, qualquer coisinha diferente já é motivo de diversão.

Exalta-se ao falar da Sofia, que furtou a dita cuja da ponta da língua dele para sair correndo com ela em direção ao refeitório.

Sofia confirma a história e assume o erro, mas não pede desculpas.

Diz nunca ter corrido tão rápido na vida e que não parou pelo cansaço, mas por conta do cheiro de pipoca.

Afirma ter uma certeza: a afta não era do Artur, e ela só agiu assim porque queria devolvê-la ao verdadeiro dono. Porém, como precisou ir ao banheiro, fez o que qualquer um faria. Colocou a afta na cadeira e balançando bem o dedinho efetuou a recomendação:

Fique aí sentada, bonitinha, e sem mexer em nada. Vou ali e volto já.

Afirma que falou e saiu correndo, com a afta guardando seu lugar. Diz que demorou um pouco mais do que queria, pois o banheiro estava ocupado. Mas, conhecendo a afta como conhecia, teve certeza de que ficaria quietinha esperando a sua volta.

Só não contava com o André, que além de ter roubado o seu assento, usou a afta, pediu o suco e ainda ganhou o canudinho.

 

 

Ricardo começou a escrever quando aceitou que ser um escritor ruim era melhor do que não ser escritor. Mora no interior de São Paulo, de onde aguarda secretamente que seja anunciada a descoberta da vida fora da Terra. Quando a saudade de Carl Sagan aperta, lê novamente O mundo assombrado pelos demônios. Ricardo escreveu recentemente um conto no qual um bêbado declara guerra aos Estados Unidos por conta de um copo quebrado. Apresentou o texto em uma chamada da Editora Êxito, alguma coisa aconteceu e o conto foi publicado (A guerra do ébrio, disponível na Amazon).

Twitter: @ricbalbino

Site: ricbalbino.blogspot.com

 

Instagram: @ric.balbino

 


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