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O mistério da capivara


Fui pescar num destes feriadas prolongados, mas confesso que sou tão ruim de pescaria que nem mentir direito eu sei, mas o que importa era descansar a cabeça. O local que escolhi era um pesqueiro, à beira do rio, com estrutura para atrair turistas que ficaram acampando pelo local.

 

O que impressionava era os borrachudos, maiores que os lambaris que eu tentava tirar da água. Três deles roubaram meu repelente e ficaram cheirando atrás de uma árvore. Sinistro.

Então, me escondendo das insetos trombadinhas, aconteceu um tumulto entre os aventureiros da barranca do rio. Era algo sobre uma capivara que estaria descendo do rio. Isso não teria nada demais, se não fosse o instrutivo diálogo de duas senhoras, uma delas com um poodle na mão:

- Olha a capivara, coitadiiiinha, sozinha no rio!

- Será que está doente? Deve estar doente, só pode estar doente!

- Deve ser... coitadiiiiiinha! Ela não está se mexendo!

- Elas não ficam sozinhas assim. O que aconteceu com as outras capivaras? O que será que fizeram com elas? O que esta gente malvada fez com as outras capivaras!?

- Coitadiiiiiinha da capivara! Será que ninguém vai fazer alguma coisa pela coitadiiiiiinha??? – O poodlee late para o rio, esganiçadamente.

Impressionei-me com a perspicácia destas mulheres: com um olhar distante, já havia feito o diagnóstico sócio-cultural, criminal e veterinário da vida do animal selvagem.

Nisto se aproxima o ser ribeirinho, cuja identidade se revela... um tronco! Um simples pedaço de pau, confundido com o peludo roedor. Quando passou, achei que era parecido mesmo com o Batman, mas o estrago já estava feito e as pessoas apelidaram aquilo, em meio risadinhas, de Paupivara!

Não vi mais as senhoras naquela tarde.

Ver é um processo engraçado porque na maioria das vezes enxergamos aquilo que queremos porque um pedaço de pau flutuando é muito menos interessante que uma capivara doente descendo o rio.

O que me preocupa é o costume do “achismo”.

Quantas pessoas são assim, que só conhecem mato através do Google Repórter e “achar” que sabem tudo sobre a vida selvagem. Deste jeito, é muita arrogância nossa “achar” que podemos defender a natureza, porque ela é muito maior do que nós seres humanos podemos sequer entender. Ela já se livrou dos dinossauros, que mandaram no planeta por milhões de anos, então um ridículo ser humano vai ser bem fácil.

Nestas reflexões filosóficas, puxei meu primeiro lambari! O inacreditável foi o que pulou atrás do pequeno peixe: uma traíra de sete quilos, que caiu direitinho dentro do balde. Levantei, assustado, as mãos na cabeça e sem querer peguei pelas pernas um jacú que passava voando! Pena não poder mostrar pra vocês, porque um urso polar roubou tudo antes de poder fazer uma foto...


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