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Como manter a receita durante a crise


Planejamento e criatividade ao readequar o plano de negócio são fundamentais para manter empresas ativas durante a pandemia. Em um ambiente de incerteza, tendem a crescer as organizações melhor estruturadas, que aproveitaram o tempo para traçar planos próprios de retomada. Esses casos são encontrados em muitas cidades, mas cases em Chapecó e Joaçaba fornecem uma análise interessante para empresas de diferentes ramos e provam que a inovação está no cerne da indústria e também dos serviços.

Empreender no Brasil não é para amadores. Qualquer um que já tenha se aventurado em ter sua própria empresa admite: não é fácil. Além de todas as burocracias envolvidas em abrir um negócio, contratar funcionários e manter todas as exigências de licenças e alvarás, ainda há a alta carga de tributos imposta a empresários de todos os portes. Junte tudo isso a uma pandemia sem precedentes como a gerada pelo novo coronavírus e podemos vislumbrar os resultados desastrosos que uma situação como essa pode causar na economia.

Em Santa Catarina, assim como em grande parte do país, a adoção do isolamento começou em março. Pesquisa feita pelo Sebrae/SC, Fiesc e Fecomércio aponta que a crise do coronavírus já resultou em mais de 530 mil demissões em todo o estado. No oeste catarinense, a perda estimada do faturamento é de mais de R$ 2.5 bilhões. Bruno Breithaupt, presidente da Fecomércio-SC, diz que os empresários ainda estão buscando alternativas para garantir a sobrevivência dos negócios, mas, ainda assim, o cenário é incerto. “70% das empresas devem levar de seis meses a dois anos para se recuperar”, avalia. Frente a essa nova realidade, os empresários precisaram se reinventar. Foi o caso da cervejaria Nordus, em Chapecó.

Criada por seis amigos que começaram fazendo cerveja na panela e compartilhando suas receitas em churrascos, o foco era inicialmente a venda industrial, voltada para bares e restaurantes. O negócio estava dando certo e a empresa vinha com um crescimento sólido de 25% a 30%, com venda média de 7 mil litros de cerveja por mês. Com o início do isolamento social e o fechamento do comércio, os sócios viram o faturamento cair 80%.

Pensando em suprir ao menos os custos de funcionamento, a cervejaria voltou sua atenção para a venda direta de seus produtos em um espaço anexo, o “Beer Garden”. Eles começaram com vendas de garrafas de 1,5l em combos, mas reformularam o plano inicial e hoje vendem qualquer tipo de cerveja em garrafas de 1l por R$ 20. A estratégia tem dado tão certo que os sócios investiram em maquinário para começar a venda em lata do produto e hoje fazem de um a três lançamentos por mês de novas cervejas. “Isso instiga mais o público, que quer conhecer os novos tipos”, conta Rodrigo Cordeiro, um dos sócios. “Com essa ação, conseguimos manter uma receita de 50 a 60% do faturamento antigo”.

Mas, se convencer consumidores a apreciar uma boa cerveja em casa parece mais simples, persuadi-los a manter uma rotina de atividade física pode ser um pouco mais complicado. Esse foi o desafio da fisioterapeuta Susana Battassini, fundadora e CEO da Personal Fitness, em Joaçaba. A estrutura da academia ajudou: o atendimento personalizado e horários previamente agendados se mostraram mais eficientes na adequação às restrições impostas pelos órgãos de Saúde.

Suzana dividiu os alunos em grupos e cada um dos doze professores da academia ficou responsável não só por adaptar a rotina de exercícios ao formato online, mas principalmente por manter todos motivados para continuar os treinos. As aulas contavam com a ajuda de planilhas, vídeo chamadas e de um aplicativo. “Durante os 35 dias de fechamento das academias, todos os professores atuaram de maneira direta e individual com os alunos. Com isso, conseguimos manter ativos e pagantes um pouco mais de 60% dos alunos”, conta.

Hoje, com a atividade de academia liberada, ainda que com restrições na capacidade de ocupação, as aulas presenciais voltaram. No entanto, o atendimento à distância permanece para os grupos de risco e pessoas que ainda não se sentem confortáveis para retornar ao treino presencial.

REAVALIANDO ESTRATÉGIAS

Estar atento ao mercado e com a mente aberta para fazer as alterações necessárias foram fundamentais para ambas as empresas. Segundo Suzana, a tomada de decisões na Personal Fitness foi rápida, pois eles estavam atentos aos indicadores de alerta no cenário brasileiro desde fevereiro. A academia desenhou inclusive uma linha do tempo para acompanhar o passo a passo das ações durante a pandemia.

Já Rodrigo conta que os sócios contrataram uma consultoria para reformular o plano de negócios. Foi aí que decidiram focar no “Beer Garden” e, atualmente, eles têm até planos de abrir um pub em um terreno ao lado da cervejaria. O investimento em marketing digital também ganhou maior destaque no plano de negócios da empresa, o que gerou uma visibilidade maior. A cerveja em lata, por exemplo, despertou até mesmo o interesse de alguns distribuidores, que agora esperam apenas que os sócios consigam adaptar as receitas para terem uma validade maior, pois o produto é fresco.

Suzana e Rodrigo mantiveram toda a equipe, mas precisaram negociar uma redução de carga horária e adequação salarial para manter a empresa ativa e sem demissões. A fisioterapeuta ainda tentou buscar ajuda do governo, mas esbarrou no excesso de burocracia para obter os recursos. Ela não foi a única: menos de um terço das pequenas empresas de Santa Catarina que solicitaram crédito conseguiram ter acesso ao empréstimo.

A solução foi fazer uma análise do fluxo financeiro, baseando-se em receitas anteriores e nas projeções do futuro, para reduzir despesas fixas e manter a saúde financeira da empresa. No entanto, o que segurou o negócio dos dois empresários foi estarem atentos ao que acontecia no mercado e aproveitar melhor ferramentas que já eram presentes, mas pouco exploradas, como redes sociais e aplicativos de mensagens.

Com a retomada gradativa das atividades, as empresas buscam agora se adaptar às novas exigências implantadas e regularmente revisadas pelos órgãos responsáveis. O uso obrigatório de máscara e a disponibilização de álcool gel em todos os ambientes, por exemplo, serão parte da rotina da população ainda por um bom tempo. Outra questão que pode ser um desafio, principalmente em empresas de pequeno porte, é o distanciamento entre as pessoas: o Ministério da Saúde pede que seja de no mínimo um metro. Porém, em um momento de tantas incertezas, pequenos empresários precisarão estar ainda mais atentos aos indicadores do mercado.

Agilidade e criatividade ao buscar soluções diferenciadas têm sido fundamentais para o sucesso do negócio durante a pandemia. Além disso, o apoio da população local será essencial para que as empresas possam continuar de portas abertas.

 

Ligia Rabay
li.rabay@gmail.com

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