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O quarto número 23


Antes que eu ou mesmo meus irmãos tivéssemos nascido, nosso pais era mais aventureiros. Jovens, sempre que tinham alguns dias livres faziam a mala, pegavam o carro e partiam sem destino. Sem fazer planos tomavam a estrada que dava vontade, comendo em lugares antes desconhecidos e dormindo no primeiro hotel que surgisse quando o sono chegava. E foi uma dessa viagens que foram parar em um pequeno hotelzinho à beira de uma vilarejo antigo.

Hotel e Pousada Stanley, conta meu pai, que tem gravado em sua memória o sinal luminoso com algumas letras piscando.

Estacionaram. Percebendo que eram os únicos no local, tiraram as malas do carro e foram à porta. Empurraram e ela abriu, revelando um lobby antigo e mal iluminado. Não havia ninguém ali, mas como a porta não estava trancada, sentiram-se no direito de entrar e tentar ver o que se passava. Foram direto ao balcão e após alguns segundos, meu pai notou a campainha. Levantou a mão para tocá-la, quando por detrás do balcão surgiu um rapaz, vestindo um uniforme verde e chapéu de funcionário.

 - Pois não, amigos! – pediu ele sem demora.

Seu jeito sorrateiro havia dado um susto em meus pais, mas após conversarem viram que era um garoto bastante simpático e falaram que estavam ali para passar a noite. O jovem, que havia se identificado como Arthur Stanley, olhou em volta e exclamou:

- Esplêndido! Vamos logo ao quarto então, que finalmente vou poder descansa!

A escolha de palavras realmente foi esquisita e meus pais sentiram algo estranho no ar, mas o sono foi mais que suficiente para não pensarem muito e seguirem o homem, que os levou ao segundo andar, no quarto 23. Abriu a porta, desejou-lhes um boa noite e desapareceu escada baixo.

Quanto ao quarto, tudo parecia normal. Bem arrumado, exceto por uma leve camada de poeira sobre os móveis e a cama. Outro casal certamente iria reclamar disso, mas eles estavam tão cansados que apenas se arrumaram para dormir e deitaram. Conforme tentavam se fazer confortáveis, começaram a sentir alguns estalos sob o colchão. Era como se pequenos gravetos estivessem se partindo.

A cama era desconfortável e barulhenta, mas entregues ao cansaço, logo começaram a pegar no sono. Despertaram, porém quando um cheiro estranho começou a exalar no quarto. Um cheiro que foi só piorando, até que eles tiveram que levantar e ver o que era. Procuraram no banheiro, nos armários, até na geladeira, mas só foram encontrar sua origem quando levantaram o colchão. O desconforto anormal e barulho do colchão eram ossos e cheiro, de um corpo apodrecido!

Nem mesmo pegaram suas coisas e correram de lá, direto para a recepção onde deram de cara com uma mulher mais velha. Contaram sobre o quarto, pedindo explicações, e ao tocarem no número 23, viram que ela se demonstrou chocada. Chamou logo o marido, sem entender como eles haviam pego aquele quarto, já que ele devia estar fechado e fora de serviço, e que tudo não passava de um mal entendido.  Talvez não, mas em meio a confusão, meu pai conseguiu usar o telefone do hotel e chamou a polícia. E foi neste dia que os meus pais ajudaram a resolver um crime...

Agora a parte mais estranha... a mulher da recepção era madrasta de Arthur, que havia herdado o hotel de seu pai. Ela havia casado novamente, depois que o pai de Arthur faleceu e pouco depois o garoto desapareceu.

A polícia me mostrou uma foto do desaparecido e eles logo o reconheceram. A verdade é que ele nunca havia saído dali. A madrasta e o marido haviam lhe assassinado para ficar com a propriedade, ocultando o corpo no Quarto 23. Ele, porém, esperou e esperou... E quando finalmente teve sua oportunidade, apareceu! Graças aos meus pais, que nessa noite resolveram um crime, pode finalmente descansar.

 

Leonardo Colle


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