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Da mata para a cuia


É no meio da mata nativa que tudo acontece. As folhas crescem e se desenvolvem. A mata determina o tempo e o que acontece em seguida, embora industrial, segue o ofício secular da extração e beneficiamento da erva-mate. Apara compreender mais sobre o processo, a Êxito conversou com Seger Luiz Marca (Seu Chico), da Ervateira Tertúlia, localizada em Jaborá, e descobriu muitas curiosidades dobre o que chega do consumidor.

 

Fale sobre sua trajetória empresarial?

A família Marca iniciou em 1950 na cidade de Vila Aurea no rio grande do Sul, com erva-mate in natura. Em 1959 chegaram em Santa Catarina. A empresa funcionou com a denominação de firma individual Ernesto Marca até meados de 1978. Foi no ano seguinte que foi fundada a Ervateira Marca Ltda, na cidade de Jaborá. A ervateira trabalhou até 1986 com erva mate cancheada, que é a erva-mate sem umidade (seca) e apenas triturada, não passando pela moagem, atendendo a diversas empresas da região do Meio-Oeste de Santa Catarina e do norte do Rio Grande do Sul.

 

Como a Tertúlia passou a fazer parte da sua vida?

Devido à grande aceitação do produto e a demanda pela erva-mate já beneficiada (a erva-mate para chimarrão), os sócios da empresa identificaram a possibilidade de criar uma marca própria. Em 1987, foi lançada a marca Tertúlia com o objetivo de dar continuidade a este trabalho de dedicação e carinho. Desde então, graças a qualidade que se inicia na seleção das mudas para o cultivo e vai até o pós-venda, a Tertúlia vem se consolidando com uma grande marca brasileira com produtos que chegam a todos os estados brasileiros e são exportados para os países vizinhos e outros mais distantes.

 

De onde vem o costume de consumir bebidas com erva-mate?

O consumo de erva-mate tem origem indígena com as tribos Guaranis. Eles consumiam uma bebida feita com folhas fragmentadas, tomadas em um pequeno porongo com um canudo de taquara que tinha, em sua base, um trançado de fibras para impedir que as folhas fossem ingeridas. Os guaranis a chamavam de bebida de caá-i, ou água de erva saborosa, e a consideravam uma erva enviada por Tupã. Segundo a lenda, o cacique de uma tribo Guarani vivia com sua filha Yari e recebeu a visita de um viajante, que pernoitou em sua cabana. Eles garantiram muita hospitalidade ao viajante e pela manhã ele revelou ser um enviado por tupã, que lhes entregou um galho de erva-mate e ensinou-os a preparar uma infusão. Como retribuição por sua hospitalidade, transformou Yari em deusa dos ervais e protetora dos Guaranis, homenageada de Caá-Yari, a deusa da erva-mate.

A planta milagrosa foi utilizada por todos os guerreiros da tribo e seu consumo virou um costume da população como forma de se aquecer durante o inverno e recuperar o vigor através de suas propriedades estimulantes e tonificantes. O costume se difundiu a partir da ocupação espanhola e portuguesa e depois com as entradas e bandeiras, se tornando um rentável comércio no Sul do Brasil. O seu uso atual, entretanto, vai muito além da bebida. Hoje se vê erva-mate em pães, roscas, bolos, trufas, massas, sobremesas, farofas e o que mais a imaginação de cada um permitir.

 

Por que a ervateira optou por realizar o plantio associado à mata nativa e não mais o monocultivo?

O plantio consorciado a mata nativa implica na manutenção de uma cobertura verde cultivada entre as árvores, composta por nabo, aveia e outras espécies que contribuem para o equilíbrio do meio ambiente. Como resultados, temos uma erva-mate mais saudável já que vive em um ambiente regulado de maneira natural. Ela também é mais saborosa em função da forma de cultivo. O espanto causado pelo plantio consorciado decorre da diminuição da produção quando comparada à monocultura, pois muitas pessoas ainda são guiadas por parâmetros de produtividade apenas. Nós acreditamos que a produção consorciada com espécies nativas proporciona algo muito maior do que os números: temos uma cultura sustentável.

Esse é um dos motivos para que a Tertúlia conquiste exigentes mercados com seus produtos. Mas é claro, em sincronia com o plantio consorciado, temos também um processo de seleção genética das espécies nativas centenárias com as melhores características par o consumo, permitindo que tenhamos um sabor diferenciado em nossas linhas de produtos.

 

Poderia explicar rapidamente o processo produtivo da erva?

Primeiro é preciso entender que a erva-mate para chimarrão e o mate frio tem processos produtivos específicos. A diferença entre eles é a quantidade de folhas e ramos de cada um. A erva-mate Tertúlia original é composta por, no mínimo, 70% de folhas da ervateira e cerca de 30% de ramos. Já a erva-mate Tertúlia Suprema é um produto diferenciado por ser composto por maior porcentagem de folhas e menos ramos para proporcionar um produto com qualidade ainda maior, inclusive no que tange os benefícios para a saúde. Muda-se também o sistema de embalagem, feito em ambiente modificado para conservar as características da erva-mate, tal qual como o aroma e a coloração.

O mate frio é composto para tereré e tem duas diferenças substanciais: a gramatura da moagem e o envelhecimento. O mate frio exige folhas e ramos moídos com uma gramatura maior, ou seja, um produto mais grosso do que a erva mate tradicional. Da mesma forma, o produto passa por um processo de envelhecimento para adquirir outras características e melhorar o sabor. Isso ocorre porque, ao contrário do chimarrão, em que a água servida está em torno de 70°C, é colocado sobre a erva um liquido frio ou gelado, exigindo uma erva mais velha para melhorar sua palatabilidade.

 

Teremos, em breve, uma erva orgânica?

A próxima novidade é que a tertúlia já está em processo para obtenção do selo orgânico. Na prática, esse padrão de produto já acontece, então teremos a certificação. Isso significa que, além de usar a natureza como aliada em nossos processos, também prezamos para que não sejam adicionados açucares, conservantes ou outras substâncias artificiais nos produtos. Ainda não há data para a finalização da obtenção do selo orgânico, mas acreditamos que essa conquista chegue logo. Gostaríamos de ter o selo para comemorar nossos 60 anos, sem dúvida!

 

Que dicas você daria para quem está iniciando a carreira empresarial?

Quando estamos iniciando tudo é novidade. Cada aprendizado é importante. É de extrema importância que você leia muitos livros técnicos ou científicos que irão contribuir positivamente na sua caminhada profissional. Você não pode parar de estudar nunca. O mercado quer saber de pessoas criativas, informadas e ativas. Busque dar o seu melhor o tempo todo em todas as esferas que puder. Não pare no tempo por achar que já aprendeu tudo na faculdade. Não aprendemos tudo nunca! E se não vai desistir de aprender, também não desista de procurar o melhor para a sua carreira e parar a sua empresa. Estamos sempre em constante mudança e evolução.


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