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A loja de bonecas - Leonardo Colle


Ninguém sabe de onde ela veio e nem para onde vai, mas o fato é que a estranha loja nunca aparece duas vezes no mesmo lugar e só é encontrada quando quer.

Aparece sempre no final da tarde de um dia cinzento, em uma rua sem movimento onde uma criança despreocupada anda rumo sua casa.

A faixada é antiga e a loja ligeiramente escura, mas basta os olhos do pequeno se direcionarem para sua vitrine, para dificilmente conseguir desvia-los.

Você pode dizer que algo na loja os puxa, ou que seja apenas curiosidade infantil de ver algo novo, mas a grande maioria, seja inocente ou pela vontade, vai até lá, colocando o rosto junto ao vidro que parece não ser limpo a muito tempo.

Dentro, uma fraca luz de tom alaranjado ilumina as centenas de bonecos que ali se encontram e a criança, querendo mais, nota que na porta há uma pequena plaquinha que diz: “Aberto”.

Naturalmente a criança entra e fica abismada pela quantia de bonecos. Todos no mesmo estilo, salvo primeiramente pelas vestimentas, que em alguns parecem mais antigas, de uma época passada e em outras mais atuais, e em segundo pelas expressões dos brinquedos.

Com os rostos bastante detalhados, cada um parece comunicar algo, que sem som ou movimento, fica apenas na cabeça de quem vê. 

Em alguns, nota-se tristeza e conformidade. Expressões de quem perdeu as esperanças e agora vive em eterno estado de indiferença. Já em outros, o que se vê são olhos quase vivos que clamam por atenção. Olhos de quem ainda tem força e quer se destacar entre os outros.

Mas, afinal, são apenas bonecos e para a criança é apenas isso que importa.

Timidamente eles caminham pela loja, inseguros pelo fato de não ter ninguém no lugar. 

Pensam se não deveria haver um adulto trabalhando, ou se o fato de não haver um, é porque não deviriam ter entrado.

Alguns cedem à pressão e saem, sem saber que assim como os que nunca entraram, foram felizes em sua escolha. Porém, a maioria não resiste à tentação e após olhar e olhar encontram o boneco favorito.

Algumas vezes é o mais feliz, em outras é o que usa roupas mais estranhas. Pode ser uma menina com cabelos em tranças ou um garoto de boné de time... Não importa! O fato é que acabam escolhendo e decidem pegar no boneco para ver melhor.

A troca não dura mais do que um segundo. E então a criança se vê paralisada, exatamente onde estava o boneco e podendo apenas enxergar, vê em sua frente uma criança, usando as mesmas roupas do boneco que havia pego bastante confusa. Esta, assim que se dá conta de onde está, corre da loja assustada, deixando o novo integrante para trás.

E da mesma forma que a loja apareceu, ela volta a sumir, apenas para aparecer novamente em outro lugar e outra época, no final de um dia cinzento.

E neste dia, será outra criança a nela entrar. A tomar seu tempo escolhendo um boneco e sem saber, libertar uma criança, tomando seu triste lugar.

 

Leonardo Pasqual Colle


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